Você sabe como agir caso um evento catastrófico ocorra?
As empresas estão investindo maciçamente em políticas de Saúde e Segurança, implementando as melhores práticas de prevenção e treinamento com o intuito de proteger seus funcionários e seus ativos.
Assim, parte destas estas melhores práticas é investigar os acidentes e gerar planos de ação aplicando ferramentas de análise da causa raiz. Como resultado a empresa terá processos mais robustos e a ampliação do conhecimento.
A princípio, isso é muito bom e mitiga os riscos, porém não elimina totalmente a possibilidade de que um evento não planejado de alto potencial, ou seja, um evento catastrófico, venha a ocorrer.
Embora seja um tema sobre o qual ninguém gosta de falar, você como líder, está preparado para agir no caso de uma lesão séria ou fatalidade?
De fato, eu não desejo que ninguém tenha que passar por esta experiência, mas segue o que eu acredito ser um protocolo mínimo para este tipo de situação.
Antes de mais nada, quem será o responsável por implemenar o procedimento? No meu caso eu era o Gestor de EHS e por isso eu assumi a responsabilidade. Dito isso, vamos ao procedimento:
Procedimento Evento Catastrófico
Antes que o evento catastrófico ocorra:
Primeiramente o Gestor de EHS cria um Comitê para Gestão de Emergências, isto é, uma equipe de 4-5 pessoas capacitadas e com atribuições definidas:
- O Gerente da Planta lidera o Comitê;
- O Comitê é organizado de tal forma que seja rapidamente mobilizado se necessário;
- O Comitê tem representantes do RH e Jurídico.
Em segundo lugar, o Gestor de EHS define um local com instalações adequadas para as reuniões do Comitê. Em princípio este local deve dispor de materiais de suporte à investigação, como por exemplo EPIs, câmeras, materiais de sinalização, cordões de isolamento, cones e outros.
Finalmente, o Gestor de EHS estabelece os seguintes procedimentos mínimos:
- Cadeia de notificação interna (lideranças locais e lideranças de outras unidades ou da matriz, por exemplo);
- Cadeia de notificação externa (familiares da vítima e autoridades públicas conforme a legislação);
- Processo de investigação.
Depois de executar os passos acima, o Gestor de EHS alinha e valida os procedimentos e planos de emergência com o RH e com o Jurídico da empresa.
Se o evento catastrófico ocorrer:
- Ofereça total apoio ao acidentado (atuação técnica para evitar o agravamento da lesão até a chegada do serviço de emergência e remoção para o atendimento médico);
- Identifique imediatamente possíveis testemunhas para futuras entrevistas;
- Contate imediatamente o Jurídico e o RH, assegurando o suporte necessário às atividades restantes;
- Preserve adequadamente a cena, evitando alterações ou acidentes secundários. Registre com fotos e vídeos, coloque um cordão de isolamento e se necessário acione o serviço de Vigilância para evitar interferências;
- Mobilize o Comitê;
- Inicie os protocolos de notificação internos e externos;
- Organize o acompanhamento necessário para os investigadores externos, se aplicável;
- Preserve ativos que contribuíram com o evento até que Jurídico, EHS e RH sejam consultados (isto pode significar que uma linha de produção permaneça parada);
- Contrate uma empresa especializada em descontaminação caso uma limpeza para evitar risco biológico seja aplicável (sangue ou outros materiais biologicamente perigosos por exemplo);
- Dê andamento prioritário à investigação do evento;
- Inicie atividades de contenção imediata em todo o site, aplicando as lições aprendidas com os resultados preliminares de investigação.
Outras considerações:
- Em caso de fatalidade, notificar a família o mais rápido possível. Esta notificação deve ser feita pessoalmente por um membro da alta administração, acompanhado de um profissional que possa prestar assistência aos parentes do falecido;
- Em caso de ferimento grave mas não fatal, entrar em contato a família e informar o nome do hospital para o qual a vítima foi transferida. Um representante do site deve permanecer no hospital até a chegada da família e prestar o apoio necessário;
Inegavelmente, um evento crítico, catastrófico ou fatalidade resultam em longos dias carregados com altos níveis de emoção. Nesta fase, comunicação transparente e ações de contenção são fundamentais.
A liderança do site deve assegurar que a vítima e/ ou seus familiares estão sendo atendidos da melhor forma, bem como deve conduzir a implementação de medidas de contenção para que as operações retornem à normalidade o mais breve possível.
O Gerente do site deve conduzir reuniões informativas com todos os empregados, com apresentações breves, factuais e enfatizando as práticas de Segurança.
Dependendo da gravidade dos fatos, aconselhamento ou assistência social aos empregados pode ser recomendado.
Mesmo sob intensa pressão para concluir a investigação, o Comitê deve descansar adequadamente e a liderança deve exercer seu papel para garantir que o esgotamento não seja o resultado.
A finalização do relatório com as determinações das causas-raízes deve ser orientada pelo Jurídico.
Considerações finais
Como se vê, trata-se de um processo traumático que ninguém imagina e ninguém quer vivenciar.
Conforme falei no início do post, a alternativa a um evento de alto potencial é investir nas melhores práticas de prevenção, e a meu ver a melhor prevenção é a construção de uma Cultura de Segurança.
Neste processo de construção, o comportamento das lideranças é o que faz a diferença. Liderar pelo exemplo, principalmente quando o tema é Segurança, desenvolverá nas equipes os modelos mentais de respeito às regras, de parar e pensar, de cumprir procedimentos e de não agir na dúvida.
E, com toda a certeza, a sua Cultura de Segurança avançará quando você perceber que, além de zelar pela própria integridade, as pessoas passam a zelar também pela integridade dos colegas.
Segurança em primeiro lugar!