Quem tem “Senso de Dono” (ownership) se torna o profissional dos sonhos de muitas empresas. É aquele cara engajado, que supera as expectativas ao desempenhar sua função e entregar resultados de alto nível. Ele age assim porque está alinhado com os valores e com a cultura da empresa, e vê valor e propósito no que faz.
Mas será que o senso de dono pode ser desenvolvido? Eu acredito que sim. Se a pessoa tem virtudes e talentos alinhados à determinada posição, ela será capaz de aprender continuamente e, à medida que vai ganhando expertise, conquistar autonomia para tomar melhores decisões e criar mais valor. Isso se parece com senso de dono?
Neste contexto, imagine o resultado de uma linha de produção na qual o Operador é o dono do seu processo.
Imagine por um momento que ativo da sua empresa é um automóvel, que o Operador é o piloto e que o objetivo é ganhar uma corrida por dia.
Você, como bom líder, transferiu ao Operador de forma estruturada todos os fundamentos do automóvel, ou seja, como o equipamento funciona, como deve ser conduzido com segurança e que tipo de cuidados e de manutenção precisa para que cumpra suas metas.
Você também conversa frequentemente com o Operador sobre as expectativas para cada corrida e o capacita sistematicamente para que ele tenha domínio sobre os processos, o que significa que ele entende o trajeto, conhece os limites da estrada, as regras de ouro de Segurança e as regulamentos da corrida.
Neste mundo perfeito, ninguém melhor que o Operador para ser o dono do processo. Assim, ele vai dirigir o carro na maior velocidade possível, respeitando os limites de segurança e os regulamentos da corrida. Vai manter o carro limpo e fazer a manutenção básica, colocando combustível, verificando a pressão dos pneus, o nível de óleo do motor e outros. À medida que ele se desenvolve, pode até trocar o óleo do motor e as pastilhas dos freios, seguindo a tabela de manutenção. E se ele precisar de ajuda? Todos, inclusive seu Supervisor estarão disponíveis para servi-lo.
O Operador-dono nunca deixará que o carro sofra um dano maior. Afinal, como dono, ele conhece o ativo como ninguém e vai parar o carro na oficina ao perceber um ruído diferente. Apesar de não conhecer o motor por dentro, ele conduzirá o mecânico à solução do problema, pois conhece o comportamento da máquina, sabe descrever os sintomas e sabe localizar a falha.
O Operador-dono não executará as revisões do carro, mas cuidará para que os serviços de manutenção preventiva especificados sejam cumpridos no tempo certo.
Mas o oceano não é assim tão azul. Na prática faltam profissionais com este perfil e aqueles que tem esse dom acabam esbarrando na falta de autonomia e de incentivos.
Por isso, quem quiser encarar o desafio de transformar o Operador em “dono” ou cliente colocando-o no “centro das operações”, tem que estar disposto a virar a própria mesa. É uma jornada e tanto que envolve mudanças de modelos mentais de todas as áreas da empresa.
Eu já vi isso acontecer, e o resultado vale a pena. Num próximo post eu conto algumas experiências.
Foto de Chevanon Photography no Pexels